A idéia de obra de arte como algo especial, feito por alguém igualmente especial (o artista "tal") que temos ainda hoje, iniciou com o Renascimento. Até o fim da Idade Média, o "artista" (artesão) era alguém que fazia parte de uma corporação que perambulava por várias localidades de uma região da Europa, executando serviços encomendados principalmente pela Igreja (por exemplo: edifícios com suas esculturas, pinturas mural, vitrais, etc.). Deus era o assunto e o motivo destas empreitadas, o clero era o contratante e o artesão era considerado um profissional menor, com pouco poder e pretenção de criação. Com as transformações do final do período medieval na sociedade e cultura européia (ver Quarto), as concepções de "artista" e de "arte" etambém se modificaram (ver Salão de Baile): a visão medieval de pintura e escultura como atividades puramente manuais (Artes Servis) foi suplantada à medida que idéias e métodos objetivos (científicos) foram adotados nessas práticas, promovendo-as à categoria de Artes Liberais. Assim, o artista deixou de ser um artesão anônimo e tornou-se humanista e cientista, um conhecedor de novas técnicas e novos materiais (como a tinta à óleo e o suporte de tela de linho, também criados na época). Muitos artistas, chegaram a redigir suas idéias em tratados, como Alberti, Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Vasari. Esta valorização da arte culminou no final do renascimento, quando o artista passou a ser visto como um ser inspirado pelo Criador (ver Michelangelo).

O artista renascentista (nos referimos aqui aos italianos especificamente) tratou suas imagens a partir de uma visão de mundo naturalmente harmônica e de sensualidade latente, próxima à realidade terrena e humana por eles revalorizada. O homem renascentista percebia-se como centro do universo, um microcosmo, reflexo diminuto da harmonia essencial do universo. O meio para alcançar essa harmonia na arte era utilizar conhecimentos objetivos, ali sistematizados para esse fim ou recém descobertos (como a aritmética, da qual derivou as regras de composição de ritmo calculado, a simetria, a perspectiva científica e espacial, o ponto de fuga central e algumas teorias da cor). Temos, então, na obra renascentista uma clareza inigualável: no contorno de suas formas; na divisão explicita dos vários planos; no tratamento detalhado dos objetos; e, inclusive, nos temas tratados. Essa pretensa objetividade, cujos resultados podem ser visualizados em obras como A História de Nastagio degli Onesti, de Botticelli, não estava apenas nos métodos de realização da obra. O artista renascentista pretendia que o espectador, diante de sua obra, tivesse uma postura tão racional quanto a sua, que não se deixasse levar por leituras emotivas, controlando-se da mesma maneira que o artista saberia controlar os seus instintos no ato de fazer. Por esse motivo, ele não explora a dramaticidade, a expressão dos personagens ou uma luminosidade contrastante - como depois fariam os artistas do Barroco (ver Masmorra). A almejada harmonia da imagem renascentista é encontrada, por um lado, na imparcialidade de seus personagens e na frieza das situações representadas, e por outro nos esquemas de harmonias cromáticas.

A valorização do primor técnico, que representou um giro radical na atividade artística renascentista, teve sua origem na influência do pensamento aristotélico. Até meados da Idade Média, sob a influência do neoplatonismo, apenas a poesia era vista com uma atividade artística elevada, que permitia a manifestação do Criador, subentendendo-se a razão como dispensável. Já os humanistas leitores de Aristóteles viram justamente na razão humana o meio de manifestação do Criador. Isso transformou a maneira do homem olhar o mundo ao seu redor, em especial a natureza. Desde São Tomás de Aquino o olhar do homem voltara-se para a terra e, mesmo assim, a natureza que vemos na arte medieval, em geral, não ocupa mais do que um pano de fundo na composição. Já o olhar do artista renascentista foi além do ato de ver, ele analisou o mundo natural segundo métodos objetivos (científicos). A representação artística tinha a função de ser fiel a essa natureza rigorosamente observada, de seguir o cânone do Naturalismo. O cume disto estava em teorias que afirmavam que o mundo era regido por leis naturais e o homem deveria compreender estas leis para poder, na arte e na vida, ser fiel à natureza. O Naturalismo perdurou em quase toda a arte produzida entre o Renascimento, no século XV, e o Romantismo, no século XIX, e foi um referencial importante na criação dos ambientes da Mansão de Quelícera.


Atualizado em 16/01/2006.

Apresentação do Site do Educador

 


Michelangelo
Juízo Final




Botticelli
A História de Nastagio degli Onesti