Até
o período Gótico,
a pintura esteve completamente vinculada à arquitetura religiosa.
A obra era feita no local onde permaneceria depois de pronta. Não
existia a idéia de uma pintura que fosse transportável.
Geralmente ela era feita como painel, em afresco,
diretamente sobre a parede. A partir do século XIII, com o ressurgimento
das cidades e da classe média, começou a haver procura
por pinturas de menor porte. Os artistas começaram a formar suas
oficinas individuais, nas quais produziam conforme as encomendas recebidas,
tanto da Igreja e da nobreza como da burguesia
que surgia. As temáticas seculares, como as dos retratos
e das pinturas
de gênero, atendiam aos interesses da burguesia e pediam
formatos mais singelos e fáceis de serem transportados. Nesse
contexto, a pintura começou a ter seu valor determinado não
apenas pelo mecenas
que a encomendava, mas de acordo com os méritos profissionais
do seu autor. A assinatura tornou-se importante, conferindo mais-valia
à obra.
No Renascimento,
a procura por esse tipo de pintura aumentou e os artistas substituíram
o suporte de madeira maciça pela inovadora tela (tecido de linho
esticado sobre um esquadro de madeira). Esse tipo de suporte, além
de ser mais leve, é mais flexível e, por isso, mais compatível
com outra inovação técnica do mesmo período:
tinta
à óleo –
que substituía a têmpera.
Óleo sobre tela mostrou ser a mais adequada técnica para
uma arte com pretensões de ser naturalista e móvel; teve
rápida penetração e tornou-se a técnica
preferida dos pintores até o início do século XX.
Desde o século XVI, a Europa
Setentrional
destacou-se pelo comércio internacional de arte. Hauser nos fornece
dados que mostram a importância da produção artística
exportadora na região: a cidade portuária da Antuérpia
dispunha, em 1560, de 300 artistas, ao passo que existiam apenas 169
padeiros e 78 açougueiros. Nos séculos XVII e XVIII, mesmo
em meio a conflitos político-religiosos, a Europa Setentrional
não deixou de prosperar economicamente: a Holanda, mesmo derrotada
na guerra contra a Inglaterra (1652-1654), manteve Amsterdã como
importante centro comercial e monetário; Flandres, mesmo subjugada
à corte espanhola, prosperou por causa de sua industria. Nesse
contexto a compra de pinturas tornou-se uma das formas de investimento
mais comuns entre a burguesia, pois rendia status e lucro (a revenda
poderia ser um bom negócio depois que o artista se consolidasse
no mercado). Esse consumo artístico é visível nas
pinturas de gênero daquela época, nas quais as paredes
dos ambientes representados, mesmo os mais simples, eram sempre adornadas
com quadros (ver Vermeer).
Boa parte da produção passou a atender à própria
demanda local. Os registros desse comércio são fontes
de pesquisa para que, até hoje, se reconheça a autenticidade
de obras daquela região.
O comércio trouxe a necessidade de outros profissionais que auxiliassem
o comprador desinformado: o marchand e o "árbitro de arte".
O marchand era o comerciante de obras de arte, um intermediário
entre o artista e o consumidor final; o árbitro (como eram chamados
os críticos na época) tinha a tarefa de formar o público,
educar o gosto, legitimando o julgamento estético com critérios
estabelecidos. Muitos artistas, inclusive, desempenhavam também
essas atividades, a fim de garantir um padrão de vida mais confortável,
como Rembrandt,
por exemplo.
A prática da compra de obras de arte, na sucessão das
gerações, transformou-se em colecionismo familiar. Por
certo essas coleções serviam para que os burgueses ricos
exibissem sua fortuna ao abri-las para visitação. Embora
as cortes européias da época também investissem
em coleções, estas não se comparavam ao volume
adquirido pela burguesia holandesa.
Um exemplo de uma grande coleção da corte européia
está na Espanha, formada por obras adquiridas, herdadas e presenteadas.
Essa coleção foi implementada no reinado de Filipe IV
(1621-1665), inclusive sob a supervisão de Velázquez,
e ao final do reinado reunia, em apenas um de seus palácios (de
Alcázar), 77 pinturas de Ticiano, 62 de Rubens, 43 de Tintoretto,
43 de Velázquez, 38 de Brueghel,
36 de Ribera, 29 de Veronese e 26 da família
Bassano.
No ano de 1700 a coleção da corte espanhola já
somava um total de 5.539 pinturas. A exemplo do rei, os nobres espanhóis
também formaram suas coleções. Muitas vezes, presenteavam
o rei com quadros no intuito de agradá-lo. O colecionismo tornou
Madrid outro importante centro de comércio de arte em meados
do século XVII. O mercado certamente influenciou o gosto artístico
espanhol que, em meio ao monopólio da Igreja, passou a tolerar
retratos de membros da corte, como os retratos de anões feitos
por Velázquez.
Desde o século XVII a relação entre produção
artística e mercado de arte foi pouco alterada: o artista continuava
criando de forma independente e apresentando sua produção
a um mercado aberto, assim como os marchands e críticos de arte
continuam desempenhando um papel importante nesse comércio. A
diferença é que nem todas as épocas dispuseram
de um público consumidor tão receptivo e volumoso como
o encontrado na Holanda do século XVII. O mercado livre de arte
trouxe mais liberdade de criação ao artista, e, ao mesmo
tempo, instabilidade profissional. Em muitos casos, o artista, sem o
antigo mecenas ou o Estado lhe dando respaldo, não encontrou
uma clientela receptível a suas obras e teve dificuldades de
manter-se na profissão. Um exemplo clássico, já
no século XIX, foi van
Gogh que, mesmo deixando uma obra memorável, não
obteve o reconhecimento que desejava de seus contemporâneos.
Apresentação
do Site do Educador
|

Botticelli
A História de Nastagio degli
Onesti

El Greco
O Espólio.

Rembrandt.
Auto-Retrato

Cezanne
Mulher com cafeteira
Carpaccio
Duas Damas
Van Gogh
O Escolar

Michelangelo
Teto da Capela Sistina (pormenor: Profeta Joel)
|