A
Morte e o Avarento
Os
trabalhos de Bosch carregam um rico repertório simbólico
e refletem preocupações moralistas. Bosch pinta cenas
da vida de Cristo ou de santos confrontados com o mal, visões
apocalípticas (ver Ciclo
da Vida) e alegorias
de caráter moral. Suas obras diferem dos artistas do período
que trabalhavam temas bíblicos por não se limitar a ambientação
da cena em espaços do cotidiano da época. Ele se apropria
de elementos simbólicos, tanto cristãos como pagãos,
provérbios populares, iluminuras,
textos religiosos, canções, obscenidades, trocadilhos
e até seres sobrenaturais. Suas imagens são traduções
visuais de metáforas verbais, profundamente ligadas à
linguagem, costumes e doutrinas de sua cultura.
A Morte do Avarento é uma de suas obras de cunho moralizante.
A cena é ambientada em um quarto da época e mostra o momento
da morte do homem avarento. Mas não apenas isso. O personagem
principal mostra-se perturbado, indeciso entre o anjo que aponta em
direção a um crucifixo e um demônio que lhe oferece
um saco de dinheiro... é seu último momento, a morte com
a foice já o espreita.
A avareza é um dos sete pecados capitais e está entre
as tentações finais descritas no Ars Moriendi (Arte
de Morrer), um livro de devoção da Idade
Média, provavelmente escrito em 1400 e muito difundido
mais tarde na Alemanha e nos Países
Baixos. A Morte do Avarento tem profundas ligações
com as ilustrações e descrições desse livro,
que contava como os diabos se comportavam à volta da cama de
um moribundo.
O corpo humano em Bosch não é exaltado como no Renascimento,
mas é retratado como uma estrutura frágil, suscetível
ao sofrimento e ao pecado. O homem do norte europeu costumava representar
a natureza humana propensa ao pecado, corrompida desde a queda do paraíso,
impelida a tentar combater as tentações, evitar os pecados
e desobediências aos ensinamentos religiosos. Na pintura de Bosch,
cada elemento possui um significado didático visando este fim.
Essa grande quantidade de pormenores iconográficos
minuciosos torna impossível uma fácil apreensão
da obra. Na época os nobres procuravam obras com alegorias de
natureza moralizante mas com uma narrativa não muito obvia, cujo
significado global só fosse acessível a um público
limitado. Procuravam nessas obras mais complexas um diferencial que
lhes atribuísse mais prestígio. Bosch não utilizou
a técnica meticulosa de Van Eyck e Weyden.
A pequena arca, colocada aos pés da cama do avarento, foi apropriada
(ver Apropriação)
para o Sótão da mansão de Quelícera, onde
se encontra fechada, guardando uma surpresa para o jogador.
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Atualização
em 30/01/2006.
Apresentação
do Site do Educador