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Pieter Bruegel “O Velho”
O Misantropo, 1568, óleo sobre madeira, 87 Øcm. Museu Capodimonte, Nápoles – Itália
 

O Misantropo

Enquanto misantropo, o personagem principal desta obra mostra-se recluso em sua própria capa, distanciado da sociedade, afastado até mesmo do camponês que conduz suas ovelhas na paisagem ao fundo da cena principal. Seu aspecto ermitão fica caracterizado pelo ar de sabedoria conferido pela sua barba, longa e alva, e pela sua expressão facial, muito séria e compenetrada. Mas o misantropo não está só. Sem que perceba, um ser estranho lhe rouba o coração que carrega sob sua capa, ao qual estava ligado apenas pelas veias de circulação sanguínea. Este ser estranho mal pode se mover, está aprisionado por uma armação metálica e esférica que envolve o seu tronco e que tem, em seu topo, um crucifixo. Que ligação o artista nos propõe estabelecer entre o misantropo e o ser que está justamente abaixo do pastor que conduz suas ovelhas? Será que Bruegel fala da complexa e ambígua relação entre a Igreja e o saber espiritual, questão tão discutida em seu contexto histórico (em meio aos conflitos da Reforma e Contra-Reforma)?

É provável que a obra O misantropo faça parte da série Os provérbios, em que o olhar de Bruegel sobre o
grotesco ficou bastante evidenciado. Ele era um crítico da sociedade de seu tempo e explicitou isso a partir de temas retirados da Bíblia (como em A parábola dos cegos, que atualmente também localizada no Museu Capodimonte/ Nápoles), do imaginário popular e dos hábitos do camponês de sua época. Ele nos mostra os absurdos do homem, do mundo, da vida.

Por mais realista que seja sua abordagem, não há nela um olhar "pesado" sobre os assuntos tratados, pelo contrário, pode-se perceber um relativo humor - embora nunca um deboche - uma certa brincadeira com os personagens apresentados. Até mesmo quando aborda temas moralmente contestáveis, ele apresenta-os de forma relativamente neutra, sem explicitar julgamentos generalizados, como se os protagonistas da ação não tivessem intenções maldosas por trás de seus atos questionáveis. Bruegel nos apresenta situações e nos deixa margem para tecermos nossas próprias interpretações. Assim como em Bosch e Arcimboldo, a obra de Bruegel carrega ambigüidade (e por isso, complexidade poética), o que faz com que ele vá além da simples alegoria. A interpretação de sua obra alça outras esferas humanas, além do conteúdo moral que pode (ou não) ser percebido nela.

Os personagens desta obra foram apropriados para A Mansão de Quelícera. A partir do misantropo de Bruegel, concebemos o habitante Tufik. Foi ele que escreveu o diário que conta a história de Quelícera e de sua irmã Estrela, e cujas páginas estão espalhadas pelos cantos da Mansão. Para conhecer Tufik, o jogador precisará vencer o desafio do mordomo na Sala de Jantar, e então será levado a uma das salinhas da Masmorra, onde Tufik encontra-se acorrentado. Já o pequeno personagem que acompanha o misantropo foi base para um outro habitante, localizado em outra salinha da Masmorra, que convida o jogador para atravessar um portal.

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Atualização em 30/01/2006.

Apresentação do Site do Educador

 


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