O
Misantropo
Enquanto
misantropo, o personagem principal desta obra mostra-se recluso em sua
própria capa, distanciado da sociedade, afastado até mesmo
do camponês que conduz suas ovelhas na paisagem ao fundo da cena
principal. Seu aspecto ermitão fica caracterizado pelo ar de
sabedoria conferido pela sua barba, longa e alva, e pela sua expressão
facial, muito séria e compenetrada. Mas o misantropo não
está só. Sem que perceba, um ser estranho lhe rouba o
coração que carrega sob sua capa, ao qual estava ligado
apenas pelas veias de circulação sanguínea. Este
ser estranho mal pode se mover, está aprisionado por uma armação
metálica e esférica que envolve o seu tronco e que tem,
em seu topo, um crucifixo. Que ligação o artista nos propõe
estabelecer entre o misantropo e o ser que está justamente abaixo
do pastor que conduz suas ovelhas? Será que Bruegel fala da complexa
e ambígua relação entre a Igreja e o saber espiritual,
questão tão discutida em seu contexto histórico
(em meio aos conflitos da Reforma
e Contra-Reforma)?
É provável que a obra O misantropo faça
parte da série Os provérbios, em que o olhar de
Bruegel sobre o grotesco
ficou bastante evidenciado. Ele era um crítico da sociedade de
seu tempo e explicitou isso a partir de temas retirados da Bíblia
(como em A parábola dos cegos, que atualmente também
localizada no Museu Capodimonte/ Nápoles), do imaginário
popular e dos hábitos do camponês de sua época.
Ele nos mostra os absurdos do homem, do mundo, da vida.
Por
mais realista
que seja sua abordagem, não há nela um olhar "pesado"
sobre os assuntos tratados, pelo contrário, pode-se perceber
um relativo humor - embora nunca um deboche - uma certa brincadeira
com os personagens apresentados. Até mesmo quando aborda temas
moralmente contestáveis, ele apresenta-os de forma relativamente
neutra, sem explicitar julgamentos generalizados, como se os protagonistas
da ação não tivessem intenções maldosas
por trás de seus atos questionáveis. Bruegel nos apresenta
situações e nos deixa margem para tecermos nossas próprias
interpretações. Assim como em Bosch
e Arcimboldo,
a obra de Bruegel carrega ambigüidade (e por isso, complexidade
poética), o que faz com que ele vá além da simples
alegoria.
A interpretação de sua obra alça outras esferas
humanas, além do conteúdo moral que pode (ou não)
ser percebido nela.
Os personagens desta obra foram apropriados
para A Mansão de Quelícera. A partir do misantropo
de Bruegel, concebemos o habitante Tufik.
Foi ele que escreveu o diário que conta a história de
Quelícera e
de sua irmã Estrela,
e cujas páginas estão espalhadas pelos cantos da Mansão.
Para conhecer Tufik, o jogador precisará vencer o desafio do
mordomo na Sala de Jantar, e então será levado a uma das
salinhas da Masmorra, onde Tufik encontra-se acorrentado. Já
o pequeno personagem que acompanha o misantropo foi base para um outro
habitante, localizado em outra salinha da Masmorra, que convida o jogador
para atravessar um portal.
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Atualização
em 30/01/2006.
Apresentação
do Site do Educador