Natureza-morta
com maçãs e laranjas
Para
criar suas naturezas-mortas, Cézanne estudava atentamente a disposição
dos objetos que iria pintar. Apesar desse cuidado, a ordenação
dos elementos resulta despretensiosa, como neste quadro Natureza-morta
com maçãs e laranjas. O artista não pretendeu realizar
uma representação naturalista,
mas propositadamente expressou-se pelo artificialismo da própria
pintura. Cézanne não utilizou o mesmo ponto de vista para
construir a perspectiva e preencher o espaço da tela, como ocorre
na perspectiva
científica.
Antes trabalha em diferentes pontos de vista, produzindo vários
planos, e permitindo uma angulação de visão diversificada
dos objetos. Esse conceito de ponto de vista múltiplo atingirá
sua plenitude no Cubismo.
Mas, já aqui, a distorção resultante reforça
o entendimento de que existe uma grande distância entre realidade
e visão, entre o objeto e a imagem criada a partir dele, questão
já levantada pelo Impressionismo.
Nesse quadro, as maçãs e laranjas são simplificadas
em formas esféricas, definidas pela cor. Basicamente o amarelo
e o vermelho modelam a fruta, tornando forma e cor uma única
coisa. Assim, em vez da maçã ser uma forma colorida, a
cor é usada para formar a imagem da fruta. Uma famosa frase do
artista sintetiza seu pensamento sobre a cor: “Quand la couleur
est à sa richesse la forme este à sa plenitude”,
ou seja, “quando a cor atinge sua riqueza, a forma atinge sua
plenitude”. Cézanne incorpora a luz na cor, uma abordagem
da iluminação
nova na época de Cézanne. Para ele, o volume das formas
não depende mais do claro-escuro tradicional. São as cores
as responsáveis pela sensação de avanço
e recuo das superfícies, como vemos nas frutas desta imagem.
Os tecidos, toalhas e cortinas dão um vigor especial ao conjunto,
suas dobras criam uma sucessão de planos que se articulam uns
com os outros e dão solidez à composição.
Cézanne resgatou o gênero de pintura de natureza-morta,
que havia sido abandonado no século XIX. Diferente das obras
do início deste gênero, durante o período barroco,
que, juntamente com as chamadas pinturas
de gênero, visavam abordar o cotidiano da classe média
em ascensão, Paul Cézanne encontrava na natureza-morta
ótimas condições para desenvolver seu trabalho,
na medida em que tinha maior liberdade de interação com
o seu modelo. Diz-se que, muitas vezes, o tempo que o artista levava
para realizar uma destas obras era tão prolongado que as frutas
chegavam a apodrecer. Além disso, por seu aspecto trivial, tais
temas eram bastante compatíveis com as pesquisas objetivas de
Cézanne, a busca de reter a essência formal de cada personagem
de sua obra sem envolvimentos de outras ordens. Através desses
seres inanimados, o artista alcançou a existência duradoura
que tanto almejava.
Esta obra foi apropriada
pela equipe de criadores do jogo A Mansão de Quelícera
e aparece em duas situações. Primeiro, no ambiente do
Claustro, sobre uma mesa colocada em primeiro plano. Segundo, como um
desafio, na passagem da Sala de Jantar para a Cozinha, onde o jogador
tem que definir qual os objetos corretos desta composição.
>>
veja a imagem no jogo
Atualização
em 30/01/2206.
Apresentação
do Site do Educador