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Jacopo Tintoretto
A Anunciação, 1583-87, óleo sobre tela 422 x 545 cm. Scuola San Rocco, Veneza – Itália:
http://www.sanrocco.it
 

A Anunciação

Entre os anos de 1564 e 1587, Tintoretto trabalhou em uma enorme série de pinturas para a Escola de São Roque, construída entre os anos de 1515 e 1549. Pertencente à fase em que se dedicou exclusivamente aos temas religiosos, o conjunto dessa série reúne quase todo o universo bíblico. Entre as imagens retratadas, temos A Crucificação, que é destaque dentro da trajetória do artista, e A Anunciação, imagem aqui referida.

Tintoretto evoca nas imagens desta fase os antagonismos do sagrado através de imagens de aspecto bastante místico, que transitam do assustador ao belo e fascinante. Isto ficou marcado pelo anticlassicismo maneirista, presente nesta imagem. O preenchimento do espaço é feito de forma não simétrica, temos um amontoamento de formas em partes da composição e, em outras, um vazio obscuro (característica que prenuncia o estilo barroco, ver Despensa). Nosso olho desloca-se em movimento diagonal, sugerido pela luminosidade que penetra o cômodo e modela as formas, tanto as do corpo quanto as do panejamento do anjo e da virgem. Tintoretto mantém aqui a dramaticidade cenográfica, que beira a uma visão apocalíptica do presente.

Esta obra é diferente de outras representações deste tema, como a Anunciação de Weyden, em que o Anjo Gabriel apresenta-se em um ambiente calmo e harmonioso, um espaço fechado mas bem iluminado, em que vemos apenas três paredes (sugerindo que o espectador está dentro do ambiente, testemunhando o fato). A imagem de Weyden é coerente com a “visão de mundo” do início da Idade Moderna (sobre ideais artísticos renascentistas, ver Hall), mas não com a maneirista. Na abordagem de Tintoretto, as incertezas suplantam a harmonia, o caos atordoa a virgem que se encontra em um ambiente obscuro, sem luxo, em meio às ruínas de um prédio possivelmente renascentista. É como se tudo estivesse indo abaixo.

Nas aberturas não há portas nem janelas, nada que resguarde o espaço interno do externo, a passagem está livre. O espectador consegue ver, ao mesmo tempo, ambos os espaços. Ele não está dentro (como na obra de Weyden), mas também não está fora. Ele encontra-se na zona de fronteira. Em Weyden, o espectador é testemunha ocular, emocionalmente distanciada, do momento mítico da anunciação. Até mesmo a virgem mantém uma certa distância, serenidade, quando colocada diante do anjo Gabriel. Já em Tintoretto, o espectador compartilha com a virgem a angústia da experiência mística.

Mas, mesmo com toda a instabilidade sugerida pelo ritmo acelerado da composição, subsiste uma ordem – um chão precisamente quadriculado, a solidez e organização dos móveis representados, o cortinado vermelho que envolve o espaço da virgem –, alguma certeza sobreviveu ao furacão. Será que Tintoretto nos fala de uma certeza racional? Agora questionada e mantida em seus limites, sem querer sobrepor-se mais à fé? Ou nos fala da ordem da própria fé? De qualquer maneira, a ordem permanece dentro das ruínas. No espaço externo, profano, o caos está instalado, resta apenas destruição e desolação.

A Anunciação foi manipulada digitalmente e incorporada ao jogo A Mansão de Quelícera (ver Apropriação), tornando-se o quartinho do Porão onde o Anão se esconde. É aconselhavel conversar com este habitante, principalmente quando estiver jogando com o personagem Raul.

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Atualização em 30/01/2006.

Apresentação do Site do Educador




A última ceia