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Tintoretto
A Última Ceia, 1592-94, óleo sobre tela, 365 x 568 cm. Igreja S. Giorgio Maggiore, Veneza – Itália.
 

A Última Ceia

A maioria das obras de Tintoretto é de temática religiosa, representando os dogmas cristãos e o universo bíblico. É o caso desta obra, em que a cena representada é o momento primeiro do sacramento da comunhão, quando Cristo divide o pão. Faz parte da última fase da carreira de Tintoretto e traz significativas características do Maneirismo: o alongamento das figuras, deixando-as altas e esbeltas; preenchimento desigual do espaço representado, com algumas zonas onde as figuras aparecem amontoadas e outras onde predomina o espaço vazio; a "cena principal" acontece em um plano mais afastado e as figuras colocadas em primeiro plano são "secundárias" (serviçais) dentro da narrativa bíblica que deu origem à obra. Na obra os apóstolos e até Jesus aparecem como participantes, não como protagonistas, da ação. Aqui acorre uma proposital desvalorização do individuo em favor do grupo. A ênfase, que estaria em Cristo, é transposta para o conteúdo maior ali tratado, o momento da "comum-união" através da ceia. Cristo não se destaca nem pelo tamanho, nem pela convergência do ponto de fuga, como ocorria na estética renascentista, por exemplo, na Última Ceia de Leonardo Da Vinci (sobre composição renascentistas, ver Hall). Cristo emana uma luz fulgurante de sua cabeça que, assim como a luz da lamparina central, ilumina os demais personagens e torna visíveis os anjos que resguardam aquele momento sagrado.

A luz (sobre as formas de tratar esse elemento da linguagem visual, ver Iluminação) foi utilizada por Tintoretto como forma de ordenar a composição, e é por isso um elemento vital nesta obra. Os contrastes entre luz e obscuridade criam o caráter cósmico da obra, que comove e enternece, e dão ao conjunto uma atmosfera de intensa dramaticidade e espiritualidade.

O movimento, outro aspecto importante nesta composição, dá-se pela concordância de linhas: tanto curvas, sugeridas pelo posicionamento dos personagens, quanto retas, que convergem para o
ponto de fuga no canto direito da composição, explicitadas pelas linhas da mesa colocada em posição diagonal.

No geral, o artista optou por uma ausência de detalhes, pela obscuridade, coerentes com a estética anticlassicista de seu contexto histórico (ver Porão). Os anjos são representados de forma incompleta, desmaterializados, como se fossem feitos de névoa. Nos personagens do mundo terreno, o artista abre mão do
naturalismo em prol da plasticidade e de um maior realismo. Isso resulta em uma suposta "ausência de acabamento", motivo de críticas negativas que recebeu de seus contemporâneos.

A lamparina e os anjos de Tintoretto foram apropriados (ver Apropriação) e resguardam um dos corredores de A Mansão de Quelícera que dá acesso à Masmorra.

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Atualização em 30/01/2006.

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