A
jovem e a morte
O
século XVI foi conturbado na Europa
Setentrional por revoltas populares relacionadas à
Reforma
e pela devastação provocada pelas pestes. A morte estava
presente no dia-a-dia e só vinha a reafirmar o imaginário
popular de tradição medieval arraigado naquela região,
povoado por crenças, visões, seres sobrenaturais e de
tendência maligna. Nesse contexto, as reflexões sobre a
brevidade tornaram-se recorrentes na arte e eram chamadas de vanitas.
A morte foi um dos temas mais tratados por Baldung em suas alegorias,
nas quais ele a justapunha com a vida, a juventude, a beleza, a sensualidade
e a vaidade. Pelo contraste, Baldung deixou bastante explícito
o cunho moralista destas imagens. Na que vemos aqui, a morte aparece
como um esqueleto que, surpreendentemente, está desacompanhado
de sua foice - diferente da composição As
três idades do homem e a morte. Ela ronda, de
forma dissimulada, a jovem e bela mulher.
A jovem é mostrada com uma pele alva e delicada, contrastando
fortemente com o fundo escuro do qual surge a morte. Suas jóias,
feitas de grandes rubis e de ouro, e o chapéu, de suave curvatura,
enfatizam a sensualidade do seu corpo nu. Até o seu olhar é
sedutor. Os contrastes ficam mais explícitos quando percebemos
o bebê no colo da jovem. Este personagem parece desarticulado
na cena, não apenas por ter seus olhos vendados - o que pode
sugerir inocência -, mas pelo fato da jovem não expressar
a postura madura e recatada esperados de uma mãe (principalmente
se tomarmos como referência as representações de
maternidade na Europa Católica, através da temática
bíblica da Virgem acompanhada do menino Jesus). Sequer vemos
ali um afago maternal. A almofada vermelha, bordada em dourado, separa
a mão da jovem do corpo frágil do bebê, que se sustenta
agarrado nos cachos do cabelo dourado desta jovem sedutora.
É a leve inclinação que a jovem faz com a cabeça
que, além de sugerir mais simpatia a sua imagem, abre espaço
para que a morte apareça em seu retrato - tão desejosa
de sua juventude. As cartas já foram dadas desde sua tenra idade,
como nos lembra a presença do bebê, agora é apenas
uma questão de tempo. O bebê, em seu primeiro estágio
da vida, não tem visão do futuro maligno que o espera,
mas a jovem tem essa consciência. Mostra-se aqui absorta em sua
vaidade, não considerando que a morte pode não tardar
(ver também Ciclo
da Vida).
A apropriação
desta obra para o jogo desempenha um papel importante na trama. Ela
aparece no Claustro como um quadro e atua como retrato de Estrela,
irmã de Quelícera.
>> veja a imagem no jogo
Atualização
em 30/01/2006.
Apresentação
do Site do Educador