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Odilon Redon
Le Juré – O sonho termina com a morte, 1887, litogravura, 23,8 x 18,7 cm. Bibliothèque Nationale, Cabinet des Estampes, Paris – França: www.bnf.fr

 

Le Juré - O sonho termina com a morte

Foi através da gravura, principalmente da litogravura, que Redon pôde divulgar suas criações de desenho executadas a carvão, técnica pouco valorizada em sua época. Editou vários álbuns com suas gravuras, organizando-os por temática, como o Le Juré, um livro que junta o texto Juré, de Edmond Picard, com as ilustrações originais de Redon. O sonho termina com a morte é uma das litogravuras que fazem parte desse livro.

No mundo fantástico das criações de Redon, principalmente na fase em que ele abriu mão da cor e optou por temas ligados a seres e cenas tenebrosas, há um aspecto de sua vida real que chega nitidamente a seu trabalho: a morte. Em 1886, morreu seu primeiro filho, Jean, nascido há pouco tempo. Redon sempre lembrou com doçura da imagem do menino. Também em meados da mesma década morreu uma irmã e um grande amigo seu de infância. A reflexão dessas vivências e experiências reais fez Redon ver a morte não de forma temerária ou repulsiva, mas como um fenômeno ligado à vida, numa concepção unitária, inseparável.

O desenho desta litogravura expressa uma energia mórbida. Há uma tensão entre o preto e o branco. A variação tonal é mínima e essa redução resulta num efeito de forte contraste entre os planos. O negro é profundo e silencioso, e a escuridão gera no branco a sensação de imaterialidade em torno da caveira. No plano horizontal, a face é de um branco frio, marmóreo e gélido, está isolada num plano horizontal e submersa em sua própria solidão.

Nossa finitude está sacramentada no título da obra. A filosofia já associou a morte à angústia no campo emocional, pois a morte acompanha, como possibilidade, todos os instantes de nossa existência. Redon não faz rodeios para tocar neste tema, como víamos nas vanitas, antes aborda diretamente o ponto nevrálgico da questão. O aspecto sombrio dessa gravura é o horror e a angústia de uma face branca imergindo num negro indefinido. A morte está de frente para nós, e o plano diagonal no qual se encontra confere ação a sua imagem. Enxergamos um fim em movimento e não sabemos qual é esse fim. A caveira atua ali como símbolo da transitoriedade (ver ciclo da vida). O sentido é enigmático e instiga o envolvimento subjetivo do espectador frente à obra, característica própria da arte imaginativa de Redon.

Esta é mais uma das caveiras apropriadas para A Mansão de Quelícera - juntamente com Pirâmide de crânios, de Cázanne, Caveira, de Van Gogh, e Caveira e crucifixo, de Weyden.

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Atualização em 30/01/2006.

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