Le
Juré - O sonho termina com a morte
Foi
através da gravura, principalmente da litogravura,
que Redon pôde divulgar suas criações de desenho
executadas a carvão, técnica pouco valorizada em sua época.
Editou vários álbuns com suas gravuras, organizando-os
por temática, como o Le Juré, um livro que junta
o texto Juré, de Edmond Picard, com as ilustrações
originais de Redon. O sonho termina com a morte é uma
das litogravuras que fazem parte desse livro.
No mundo fantástico das criações de Redon, principalmente
na fase em que ele abriu mão da cor e optou por temas ligados
a seres e cenas tenebrosas, há um aspecto de sua vida real que
chega nitidamente a seu trabalho: a morte. Em 1886, morreu seu primeiro
filho, Jean, nascido há pouco tempo. Redon sempre lembrou com
doçura da imagem do menino. Também em meados da mesma
década morreu uma irmã e um grande amigo seu de infância.
A reflexão dessas vivências e experiências reais
fez Redon ver a morte não de forma temerária ou repulsiva,
mas como um fenômeno ligado à vida, numa concepção
unitária, inseparável.
O desenho desta litogravura expressa uma energia mórbida. Há
uma tensão entre o preto e o branco. A variação
tonal é mínima e essa redução resulta num
efeito de forte contraste entre os planos. O negro é profundo
e silencioso, e a escuridão gera no branco a sensação
de imaterialidade em torno da caveira. No plano horizontal, a face é
de um branco frio, marmóreo e gélido, está isolada
num plano horizontal e submersa em sua própria solidão.
Nossa finitude está sacramentada no título da obra. A
filosofia já associou a morte à angústia no campo
emocional, pois a morte acompanha, como possibilidade, todos os instantes
de nossa existência. Redon não faz rodeios para tocar neste
tema, como víamos nas vanitas,
antes aborda diretamente o ponto nevrálgico da questão.
O aspecto sombrio dessa gravura é o horror e a angústia
de uma face branca imergindo num negro indefinido. A morte está
de frente para nós, e o plano diagonal no qual se encontra confere
ação a sua imagem. Enxergamos um fim em movimento e não
sabemos qual é esse fim. A caveira atua ali como símbolo
da transitoriedade (ver ciclo
da vida). O sentido é enigmático e instiga o envolvimento
subjetivo do espectador frente à obra, característica
própria da arte imaginativa de Redon.
Esta
é mais uma das caveiras apropriadas
para A Mansão de Quelícera - juntamente com
Pirâmide
de crânios, de Cázanne, Caveira,
de Van Gogh, e Caveira
e crucifixo, de Weyden.
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Atualização
em 30/01/2006.
Apresentação
do Site do Educador