O
bebê Marcelle Roulin
Quando
van Gogh mudou-se de Paris para Arles, em 1888, viveu muito só.
Essa solidão foi amenizada pela relação de amizade
que desenvolveu com a família do carteiro Roulin. Na época,
ele escreveu ao seu irmão Théo: "Não há
caminho melhor e mais curto para melhorar o trabalho que o de fazer
figuras. Ademais, sempre me sinto confiante ao fazer retratos, sabendo
ser este trabalho bem mais sério – talvez não seja
esta a palavra correta –, mas é o que mais me permite cultivar
o que tenho de melhor e de mais sério". Talvez o que o artista
estivesse querendo dizer com o termo “sério” fosse
os sentimentos que ele considerava nobres, como a ternura e o amor.
Com essas palavras, Van Gogh confessou o que sentia em relação
às pessoas com quem convivia e que eram retratadas em suas pinturas
(ver retrato).
O bebê Marcelle Roulin é apresentado aqui como uma
criança muito grande, desproporcional em seu tamanho. Não
há descrição de um ambiente no quadro. As poucas
zonas de fundo que podemos avistar são preenchimentos de um verde
claro. O retrato infantil perde a delicadeza pelas formas volumosas
e gorduchas do bebê e pelo olhar arregalado e fixo no espectador.
A composição quebra com o tradicional ponto de vista do
olhar adulto e masculino em relação às crianças,
geralmente superior e distanciado. Temos aqui uma aproximação
da imagem que faz com que o personagem mal caiba na quadro. A todas
essas características associa-se a vitalidade da figura do bebê,
construída por van Gogh com a energia da cor rosácea de
sua pele, com os pequenos lábios grossos e avermelhados que contrastam
com o branco da roupa e diminuem sua intensidade, e com a tonalidade
escurecida da pele. O bebê não é retratado pela
sua graciosidade ou formosura, mas pela vida que ali se manifesta.
A intensidade e a força expressiva da pintura de van Gogh decorrem
do embate interior que vivenciou entre o limite das coisas reais e a
possibilidade ilimitada da sua imaginação criativa. A
pintura o aprisionou, mas foi o único caminho capaz de libertá-lo.
Assim também, o bebê aqui apresentado de forma quase monstruosa
pode ser visto, a partir de um olhar que não busque o naturalismo,
como um ser pulsante de vida. O artista escreveu a Théo, em agosto
de 1888: "Também uma criança no berço, se
a olharmos detidamente, tem o infinito nos olhos".
Em A Mansão de Quelícera esta obra foi Apropriada
e aparece como um quadro na parede de um dos quartos do "Enigma
das três idades", ao qual o jogador tem acesso a partir do
Porão.
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Atualização
em 30/01/2006.
Apresentação
do Site do Educador